segunda-feira, 29 de julho de 2013
"MÁSCARA DO RIO, SATURADA POR ESSA BOLHA DE OTIMISMO ACRÍTICO, QUER CAIR"!
(trechos da coluna do jornalista Arnaldo Bloch - Globo, 27) 1. O Rio viveu uma euforia: morros libertos, choque de ordem, Copa do Mundo e Olimpíadas no papo, pré-Sal: anunciava-se um ciclo de ouro para a cidade, com explosão hoteleira, maquiagem das praias, Porto Maravilha, BRTs, algo jamais visto, nem quando o Rio era capital. Cabral não cabia em si. Paes era só paz. Beltrame, o paladino da Justiça.
2. Não havia quem, impunemente, não comprasse a ideia. E quem ousasse dizer um “ai”, pedir prudência, era tachado de inimigo, espírito de porco, na contramão das evidências.
Hoje, passada a primeira onda recente de manifestações, parece que a máscara da cidade, saturada por essa bolha de otimismo acrítico, quer cair.
3. O próprio Beltrame, para quem Cabral repassa todas as culpas, agora, da vergonhosa ação da PM diante dos últimos tumultos de rua, já não é mais aquele. Fico imaginando se o rapaz fichado e demonizado rapidinho pela opinião pública fosse de fato processado criminalmente. O militante, já ia se convertendo num bode expiatório ideal para o agora impopular Cabral despejar sua tendência autoritária (sua fome de inconstitucionalidade ficou clara com a primeira versão do decreto da comissão dos vândalos).
E o que vemos nos transportes, mal o Papa põe os pés na cidade? A completa pane dos trens e metrôs ao primeiro verdadeiro teste de capacidade. E a ignorância sobre o trajeto do pontífice, que podia ter desandado em tragédia.
4. A cidade-evento está pagando mico, sendo zoada por ciumentos estrangeiros, deixando inseguros os exploradores dos referidos eventos e os turistas.
5. É isto o que o Rio está se tornando: uma cidade-padrão. Um colosso chato e besta. Ordem confunde-se com uniformização, e uniformização, como todo mundo sabe, é o primeiro passo para a exclusão. A cidade partida continua partida. A partida mal começou. Se o Rio e suas autoridades não baixarem a bola, vai chover a chuva furiosa dos céus na etapa final, vai vazar a lama do Posto 5 que continua fedendo, e o consolo vai ser uma leitura pública do “Ai de Ti Copacabana” nas exéquias. Mas sobreviveremos.
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