sexta-feira, 2 de agosto de 2013
POLÍTICAS PÚBLICAS FRATURARAM O RIO! O QUANTO SÃO RESPONSÁVEIS PELAS MANIFESTAÇÕES NAS RUAS?
1. As políticas públicas implementadas na Cidade do Rio, nos últimos 4 anos pela prefeitura e 6 anos pelo estado, refundaram a desintegração sócio-urbana. O quanto isso contribuiu para as reações populares nos últimos dois meses é um estudo que tem que ser feito. Mas que contribuiu, certamente contribuiu. Vejamos.
2. Em primeiro lugar as remoções de moradores de favelas como política de comunicação, gerando insegurança nos moradores. Reassentamentos fazem parte das ações dos governos em países em desenvolvimento. Mas seu objetivo é a melhoria de vida das famílias e não o higienismo. Todos se lembram, também, da decisão de cercar as favelas da zona sul com muralhas medievais e das matérias para a imprensa a respeito.
3. A visão que o servidor público e o serviço público, através deles, é um entrave e que cabia privatizar, terceirizar, entregar a empresas, consultorias, et caterva, e que essa era a política a ser seguida, como se viu na saúde, na educação, etc., fraturou as relações entre governantes e servidores. E no caso dos servidores que prestam serviços diretamente a população, o multiplicador é enorme.
4. A ordem urbana foi transformada em slogan repressivo: choque de ordem. Reuniram-se equipes (ou milícias?) com fiscais, guardas, policiais para reprimir na frente das câmeras... Criminalizou-se -generalizando- a população de rua e os que trabalham nas ruas. Demolições, mesmo que necessárias, foram transformadas em espetáculos para a TV. O sistema de ônibus passou a ter hegemonia. O transporte complementar foi criminalizado, generalizando-se situações de ilegalidade nas entrevistas das autoridades.
5. Urbanismo -visão de cidade como um todo- desapareceu, entrando intervenções por projetos, de forma desconectada. Construir espigões passou a ser visto como progresso. Novas leis, facilidades, mudanças de regras... A revitalização da área portuária, tão desejada, mudou seu escopo de origem, afetando a identidade de bairros. O Corredor Cultural foi atropelado. Quartéis e delegacias, em áreas valorizadas, sendo vendidos para a construção de prédios particulares.
6. Empreiteiros e prestadores de serviço tiveram as regras de controle alteradas como nos casos do BDI - incremento de mais de 15% em obras supostamente para cobrir custos fixos e na redução de prazos para reajuste do preço de obras e serviços.
7. A externalização de intimidades com grandes empresários cujas relações de vida anterior dos governantes nada tinham a ver. Abuso de viagens ao exterior. A transformação do poder legislativo em departamento do poder executivo, dos governantes. Xingamentos a servidores, a moradores (no caso, ao lado do presidente), agressão física em restaurante. O governador ébrio conversando e tropeçando no inglês com a presidente. Vários demonstrados em vídeos. E por aí vai.
8. Por maior que seja a boa vontade da imprensa, potencializando pontos positivos, todos aqueles elementos citados foram sendo introjetados e acumulados pela população, através de seus contatos pessoais e multiplicados pelas redes sociais. Que esse processo teria que explodir em algum momento, numa cidade com as características de energia e rebeldia do Rio, se sabia. A força com que veio e os excessos, é que podem ter surpreendido alguns.
9. De tudo isso se espera que os governantes entendam que repolarizaram a cidade, refraturaram. Mas sempre é hora de autocrítica e de rever o elitismo, o higienismo e o repressivismo, de forma a reintegrar o tecido sócio-urbano do Rio. De outra forma terão mais e mais "surpresas".
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