Organizações querem criar padrão para livro didático inclusivo
Mesmo com avanços, nos últimos anos, em relação à concretização de uma educação inclusiva, existem ainda diversas barreiras que precisam ser vencidas. Umas delas é a garantia de que os livros didáticos distribuídos nas escolas sejam acessados por qualquer criança, ou seja, é preciso pensar em um desenho universal para essas obras.
Em 2015, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) decidiu reunir especialistas de seis países para pensar parâmetros e um protocolo guia para servir como referência para os países desenvolverem livros didáticos inclusivos. No Brasil, um grupo de organizações foi convocado a fazer parte da iniciativa que em breve apresentará os primeiros resultados.
O primeiro passo desse grupo foi fazer um diagnóstico da situação atual. No Brasil, os professores de salas de recursos de escolas públicas do Rio de Janeiro participaram e aplicaram uma pesquisa com os estudantes para identificar as demandas e alguns conceitos chaves que serviram como base para o desenvolvimento do protocolo e do primeiro livro.
Uma das primeiras conclusões da pesquisa é que os recursos que foram pensados para crianças com algum tipo de deficiência se provaram muito úteis para os demais estudantes.
“Descobrimos que diversos recursos que já são utilizados para garantir a inclusão são extremamente úteis para os estudantes que não tem deficiência”, afirmou a coordenadora-geral do Movimento de Ação e Inovação Social (MAIS) e do Movimento Down, Maria Antonia Goulart.
Outra constatação importante é que a tecnologia tem que ser aliada de primeira ordem para que esse direito seja efetivado. Isso porque parte dos recursos são de difícil adaptação para livros impressos. Um dos exemplos é a áudio descrição das imagens para os cegos, ou alguns recursos de acessibilidade de aumento da letra para facilitar a leitura.
Outra constatação é que a articulação é essencial para se criar soluções de maneira coletiva. Nesse sentido, espaços públicos como bibliotecas podem cumprir um papel crucial para a efetivação do direito ao livro didático universal. O grupo ainda não concluiu o protocolo, mas algumas diretrizes sobre o que deve constar desses livros didáticos já foram desenhados.
Os conteúdos precisam ser apresentados de maneira clara, concisa e bem organizada; a linguagem precisa ser simples e objetiva. Os conceitos todos devem ser explicados e é importante garantir a antecipação dos conteúdos antes de cada capítulo, links para leitura e imagem com descrição e, quando possível, sem elementos que não tenham função.
Primeiro modelo
Nas próximas semanas, os participantes brasileiros apresentarão uma primeira versão do que deveria ser o livro didático inclusivo. Está sendo produzida a adaptação da obra mais vendida nas escolas do país. Pedro Millet, responsável por trazer o sistema Daisy para o Brasil, explica que atualmente existem diversos tipos de recursos que são utilizados, mas que muitas vezes não são integrados.
Sistema Daisy
Voce já ouviu falar em sistema Daisy? É um sistema que torna livros, inclusive e-books, acessíveis para pessoas com deficiência visual. No Brasil, já são cerca de 3 mil títulos. Pedro Millet é o representante do sistema na América Latina. Continue lendo.
Na prática, o cego usa um recurso, o surdo outro e a criança com algum tipo de deficiência intitula um terceiro. Como a ideia é criar um desenho universal e a pesquisa apontou que os recursos pensados para um tipo de criança podem servir para as demais, a decisão foi desenvolver um software que permite que todos os recursos estejam disponíveis dentro de uma mesma plataforma.
“A proposta é criar um livro para todos e para isso precisamos que todos as crianças e jovens estejam sincronizados na leitura e isso só é possível se todos os recursos estiverem presentes dentro de um mesmo dispositivo”, afirmou Pedro.
Em algumas semanas, uma primeira versão será testada em 19 escolas públicas do Rio de Janeiro. O Brasil será o primeiro país a provar uma plataforma, experiência que servirá como referência para os demais países.
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