Qual a avaliação do mercado sobre o futuro do governo
O mercado não representa toda a economia, mas uma parcela importante dela. É um conjunto de pessoas e empresas que fazem operações financeiras: emprestam ou tomam dinheiro emprestado, compram ou vendem ações, dólares, contratos futuros, dívidas, opções e outros derivativos. Como as transações financeiras ocorrem diariamente e a cada minuto, elas traduzem expectativas e nível de confiança dos agentes em números de forma mais rápida que a economia real.
É comum que o mercado tome como base o cenário econômico projetado para o país para a tomada de decisões de investimento. Atualmente, a grande questão do mercado com a política no Brasil é a situação fiscal, que se encontra bastante deteriorada. Os agentes se preocupam com as contas públicas porque a dívida do governo atingiu valores muito altos e em crescimento, porque há muito dinheiro aplicado na dívida do governo e porque a rolagem desta dívida depende da confiança dos investidores na capacidade do governo de repagá-la. Qualquer descumprimento de contratos por parte do governo tem potencial para abalar o mercado de capitais, que funciona também para financiar empresas e projetos de infraestrutura. Mesmo quem não tem dinheiro investido em títulos públicos seria afetado, já que a percepção de risco de calote afeta as projeções quanto à cotação de equilíbrio do dólar, o valor das empresas, as taxas de juros futuras e assim por diante.
A chegada de Temer ao poder era a chance de aprovação das reformas, principalmente a da Previdência. No primeiro ano de governo, mesmo com a economia em recessão e o desemprego em alta, melhoraram os índices que dependiam mais da expectativa: dólar caiu, subiram as ações da Petrobras e da maioria das principais empresas brasileiras.
Até a delação da JBS e a gravação feita por Joesley Batista, Temer contava com todo o apoio de empresários e investidores do mercado financeiro. Depois da denúncia, a relação ficou abalada. O discurso do mercado, a partir daí, passou a ser em apoio às reformas - independentemente de quem seria o presidente a tocá-las. Os nomes de Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda, e Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, chegaram a ser cogitados em caso de eleição indireta, mas a articulação mais forte aconteceu em torno de Rodrigo Maia, presidente da Câmara e sucessor imediato de Temer. Maia sempre teve um discurso pró-reformas e responsabilidade fiscal, o que agrada ao mercado. Assim que a denúncia da Procuradoria-Geral da República chegou ao Congresso, aliados de Maia começaram a articular seu governo - alternativa em caso de afastamento de Temer. Mas o peemedebista conseguiu reverter o jogo em negociações com o Congresso e Maia, acusado de traidor, recuou.
No momento, o mercado está de olho na capacidade do governo de articular a base de apoio. Os votos conseguidos na votação da denúncia (263) são um indicativo não só da capacidade de arquivar futuras acusações, mas também da força do governo para a aprovação, principalmente, da reforma da Previdência (para ela passar, são necessários 308 votos dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores).
Fonte: Nexo
Nenhum comentário:
Postar um comentário