Entidades criticam demissão do chefe de combate a trabalho escravo.
André Roston foi demitido dois meses após criticar corte de recursos e quatro dias após encaminhar ao presidente a nova ‘lista suja’ de empresas que usam mão de obra escrava.
O governo federal exonerou na terça-feira (10) o chefe da Detrae (Divisão de Fiscalização do trabalho Escravo), André Esposito Roston, responsável por avaliar denúncias de trabalho escravo no Brasil e elaborar a “lista suja” das empresas envolvidas com trabalho escravo. Assinada pelo ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira (PTB), a demissão foi publicada no Diário Oficial da União.
Em nota enviada ao jornal carioca O Globo, o ministério afirmou que tem o combate ao trabalho escravo e infantil como prioridade, que funções de chefia são transitórias, “e o combate ao trabalho escravo não depende de uma pessoa”. “Muitas vezes, substituições de chefias ocorrem para aprimorar aquilo que vem se realizando.”
Entidades que atuam no combate à escravidão e informações divulgadas na imprensa apontam, no entanto, que a exoneração está ligada a duas questões que teriam desagradado aos superiores de Roston:
- Críticas feitas pelo ex-diretor em agosto ao corte de recursos para o combate ao trabalho escravo sob o governo Temer, o que teria levado à queda do número de fiscalizações;
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Insatisfação com a versão mais recente da “lista suja do trabalho escravo”. Encaminhada por Roston para assinatura do presidente Michel Temer antes de ser divulgada, ela teria desagradado a base aliada que se prepara para votar no Congresso a segunda denúncia contra o presidente. Isso deve ocorrer até o fim de outubro.
Caso essas informações estejam corretas, a demissão é mais uma concessão do governo Temer à Bancada Ruralista, que tem se mostrado uma aliada essencial.
Em entrevista ao jornal O Globo, o procurador do trabalho Tiago Cavalcanti afirmou que “existe uma incompatibilidade entre pessoas engajadas, comprometidas de fato com o combate ao trabalho escravo, e a atual gestão, que não tem qualquer vontade política de enfrentar o problema”.
Em nota conjunta, divulgada na terça-feira (10), Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho, Comissão Pastoral da Terra, Instituto Ethos, entre outras entidades, afirmam que o afastamento de Roston “revela a inexistência de vontade política e o descompromisso do atual governo com o enfrentamento” da escravidão.
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