quarta-feira, 11 de outubro de 2017

DESCRÉDITO DO ELEITOR BRASILEIRO ABRE ESPAÇO PARA RENOVAÇÃO

Brasileiro desconfia de políticos, mas vê eleição como saída para crise

O descrédito do eleitor brasileiro em relação aos partidos políticos, ao presidente da República e até mesmo sobre os candidatos em quem votou em eleições passadas abre uma brecha para a renovação na eleição do ano que vem, quando serão escolhidos, além do presidente, governadores, senadores e deputados. 

Um estudo inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mapeou essa desconfiança — até os índices que indicam melhora econômica são contestados — e, ao mesmo tempo, revelou que a maioria da população defende o voto como melhor mecanismo para a saída da crise. Dentro deste cenário, quase um terço dos entrevistados (29,8%) manifestaram a intenção de apoiar um “candidato novo fora da política tradicional”.

Em um patamar semelhante, outro indicativo da descrença, 29,3% responderam à mesma pergunta dizendo que pretendem votar em branco ou nulo em 2018. Já 16,1% não atrelaram a escolha a uma legenda específica e manifestaram o desejo de votar em um “candidato independentemente do partido”.

A Operação Lava-Jato, que atingiu frontalmente alguns dos principais nomes da política, envolvidos com corrupção, é um dos fatores que contribuem para a rejeição e a expectativa por novos nomes.

Segundo o diretor da FGV e coordenador da pesquisa, Marco Aurélio Ruediger, a combinação entre descrédito e esperança poderá resultar em um processo de renovação eleitoral.

— A taxa de rejeição é grande, e a taxa de rotatividade deve ser imensa nessa eleição (2018). Tudo aponta para uma eleição que vai ser um momento pivotal (central) da política brasileira, como poucos nós tivemos. Eu diria a redemocratização, a eleição do Fernando Henrique (Cardoso) e depois do (Luiz Inácio) Lula (da Silva). Então, 2018 está se armando como um grande palco no qual uma série de ajustes e contas para fechar vai ser resolvida. Ou seja, qual o rumo o país vai ter? Qual a configuração política vai liderar esse rumo? E qual a expectativa eu vou ter para o Brasil no futuro?

Com o título “O dilema do brasileiro: entre a descrença no presente e a esperança no futuro”, a pesquisa da FGV explicita o descolamento do brasileiro em relação ao Congresso Nacional e ao Executivo. Entre as 1.568 pessoas entrevistadas, 83% afirmaram não confiar no presidente da República (Michel Temer; o levantamento não fez a referência nominal); 79% disseram desconfiar dos políticos eleitos; e 78% reforçaram que não confiam nos partidos. Em outra questão levantada pelos pesquisadores, 47% afirmaram que o país estaria melhor sem as legendas.

SEM REPETIR O VOTO

Ao serem questionados sobre as eleições de 2018, 55% dos ouvidos rejeitaram a possibilidade de escolher o mesmo candidato à Presidência em quem votaram nos pleitos anteriores. Os percentuais se mantêm no mesmo patamar para governador (53%), senador (52,4%) e deputados (51%). 

A pesquisa indica que a via eleitoral é, para a maioria dos brasileiros, a melhor saída para os problemas do país — 65% concordaram com a frase “mais importante do que protestar nas ruas é votar nas eleições”. A expectativa deve adicionar uma pressão extra nas eleições do ano que vem e nos candidatos eleitos, já que, mesmo vivendo o descrédito, a população acredita que a situação vai melhorar nos próximos cinco anos — 53,7% imaginam que a qualidade de vida vai prosperar no período.

— A maior parte das pessoas estaria melhor sem os políticos. Todo esse drama que a gente tem vivido nos últimos anos, somado à própria estrutura do nosso sistema político, que não é mais funcional, leva à imensa falta de credibilidade e de confiança nos partidos políticos como instituições confiáveis de representação. E isso obriga os políticos do Congresso a repensarem o papel deles. Eles são fundamentais — explica Ruediger. 

— O Brasil não conseguiu construir consenso, a não ser o consenso na desconfiança no sistema político e nos atores políticos.

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