Braga Netto afirma que estado pode se tornar ‘laboratório para o Brasil’. Mas não detalha o plano de ação na área de segurança
O general do Exército Walter Souza Braga Netto, nomeado no dia 16 de fevereiro interventor do governo federal na Segurança Pública no Rio de Janeiro, realizou na terça-feira (27) uma conferência dirigida a jornalistas, na capital fluminense.
Havia expectativa de que, no encontro, fosse apresentado um plano detalhado da intervenção federal que já completa 11 dias. Porém, a exposição, de apenas 25 minutos, se limitou à projeção de seis slides de power point com o organograma da intervenção e com frases descrevendo genericamente o objetivo, além de breves discursos do expositores. Sobressaiu a seguinte frase do interventor: “O Rio de Janeiro, ele é um laboratório para o Brasil.
Se será difundido o que está sendo feito aqui para o Brasil, aí já não cabe a mim responder.” Mais tarde, no mesmo dia, o presidente Michel Temer deu posse a Raul Jungmann no novo Ministério da Segurança Pública. No discurso, não descartou novas intervenções pelo Brasil, dizendo que o governo federal analisará “caso a caso”.
Os jornalistas presentes foram orientados a enviar perguntas por escrito, que, antes, foram selecionadas pelo Exército, que também decidiu, na entrevista, quais os jornalistas seriam autorizados a dirigir questionamentos oralmente aos expositores.
Ao longo do dia, especialistas em segurança pública e jornalistas se referiram à exposição com frustração, dizendo que embora a conferência tenha sido chamada “para apresentar detalhes da ação (Folha de S.Paulo)”, ficou claro que “não existe planejamento (CBN)” e que “falta detalhamento (de acordo com quatro especialistas ouvidos pelo O Globo)”.
A conferência teve início às 10 horas, mas o primeiro comunicado da Assessoria de Comunicação Social do Gabinete de Intervenção Federal Comando Militar do Leste só foi publicado sete horas depois, às 17h20. No comunicado, o órgão não diz que a conferência teve por objetivo apresentar detalhes da intervenção. Ela apenas “apresentou (...) o Chefe do Gabinete de Intervenção Federal, General Mauro Sinott, e o novo secretário de Estado de Segurança, General Richard Fernandez Nunes”.
A intervenção em curso no Rio é a primeira decretada no Brasil desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 e está sob comando de um general do Exército. Como não existe paralelo na história recente, há muita expectativa e cobrança, em diversos setores da sociedade, a respeito da maneira como a intervenção será conduzida na prática, sobretudo em aspectos ligados ao uso da força pelos militares e ao respeito aos limites legais da ação.
A importância política e econômica do estado do Rio, assim como a simbologia da cidade, também tornam essa medida extrema ainda mais debatida. Além disso, a intervenção ocorre num ano de eleição presidencial e o próprio marqueteiro do presidente Michel Temer, Elsinho Mouco, disse que a medida poderá alavancar a popularidade do presidente, um dos mais mal avaliados da história do Brasil.
Por tudo isso - e por 11 dias terem se passado desde a publicação do decreto de intervenção - havia expectativa de que as autoridades detalhassem ações específicas, mostrando previsão orçamentária, cronograma de ações ou apresentação de resultados numericamente mensuráveis a serem alcançados em termos de melhoria na segurança pública até a data final da medida, 31 de dezembro de 2018.
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