domingo, 15 de abril de 2018

NOSSA INTELIGÊNCIA CORROMPIDA





Na última década, os brasileiros viram-se submetidos a um processo de corrupção endêmica e institucionalizada sem precedentes. Entre mensalões e petrolões, a nação assistiu embasbacada enquanto corruptos e corruptores descreviam, em tom de banalidade, alguns dos esquemas que possibilitaram o desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos e, mais do que isso, a transformação do Estado e de suas instituições em instrumentos úteis aos interesses partidários mais sórdidos.

O Brasil de hoje é perigoso, feio, miserável e insustentável. Mas o que tornou tudo isso possível? O que entorpeceu a alma da sociedade brasileira tão profundamente para que ela se permitisse representar por personalidades tão disformes? Quais são as raízes mais profundas da crise que aflige a nação? E qual foi o papel dos intelectuais brasileiros nisso tudo? 

Intelectuais sérios conhecem algumas das características fundamentais do marxismo: a pretensão de não só explicar o mundo em sua completude, mas reconstruí-lo por meio da revolução total, isto é, a destruição da ordem, das estruturas governamentais aos costumes mais arraigados da população; o maquiavelismo absoluto, para o qual toda prática é sempre oportuna e está previamente justificada se servir, de forma tática ou estratégica, à conquista do poder, ou seja, dispensa-se, por princípio, qualquer preocupação ética; para desagregar, confundir e, se possível, estabelecer o caos, vociferar contra tudo, apontando interesses escusos e irreveláveis mesmo quando não existem, de maneira que restem apenas eles próprios como exemplos de honestidade. 

O nosso problema, grave problema, é que neste exato momento, em universidades, colégios, editoras e redações, há profissionais pensando e agindo de acordo com essas premissas — e difundindo-as como se representassem a verdade e o caminho para se construir uma sociedade perfeita. 

Descobrimos que os antecedentes do processo, no Brasil, perverteram a produção artística e intelectual, abrindo estas ideias para todos os setores da vida: das rodas de samba à Academia Brasileira de Letras, dos sindicatos às universidades, das associações de bairro ao Palácio do Planalto, dos terreiros de umbanda à CNBB — uma teia de controle ideológico que abarca a programação televisiva, as políticas editorais, a escola de nossos filhos, a filosofia e a teologia, a produção literária e os comentaristas, aparentemente isentos, das rádios, da Web, dos jornais. 

Porém, ninguém está obrigado a participar da crise espiritual de uma sociedade; aceitando a repetitiva verborreia que hoje inunda e sufoca nossa cultura. Ao contrário, todos estão obrigados a evitar a loucura e viver sua vida em ordem. 

Mas não encontraremos fórmulas prontas, precisaremos buscar as verdadeiras respostas — para si próprio e para a sociedade — aquelas que independem da ideologia dominante, dos lugares-comuns das panelinhas e dos modismos acadêmicos, e por fim a este ciclo da miséria moral, que leva milhares e milhares de almas a uma existência passiva, vazia de sentido, guiada apenas pela satisfação imediata de seus desejos e paixões mais elementares. Uma existência socialmente corrosiva, enfim. 

A vida na sarjeta é especialmente relevante para nós, brasileiros, reféns de uma cultura intelectual que encara as questões sociais de uma perspectiva exclusiva e rasteiramente materialista, como se todos os nossos problemas — em especial os relativos às populações de baixa renda — se resumissem a falta de dinheiro. 

Devo advertir, portanto, que a geração intelectual atual já monopolizou demais o debate público brasileiro, impondo-nos suas manias e obsessões como panaceias e bloqueando o florescimento de novas gerações de intelectuais verdadeiros. Os espíritos mais elevados e generosos desta geração, precisam compreender que o seu tempo passou, ou, melhor dizendo, que a herança cultural daquele período tornou-se pesada demais para o Brasil de hoje. 

É urgente um reencontro da intelectualidade brasileira com o seu povo. A missão daquela já não pode ser, como no passado, e sob o pretexto da conscientização política, transformar e subverter radicalmente o código de valores deste, mas, ao contrário, garantir-lhe a devida expressão simbólica. Para isso, será preciso resgatar antigas vozes bem como saudar as boas-novas. 

Afinal, há algo de muito errado quando a classe falante de um país só consegue dar ouvidos a militantes políticos e “movimentos sociais” — ou seja, ao “povo” organizado —, permanecendo surda à sinfonia cotidiana do cidadão comum. 

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