terça-feira, 26 de setembro de 2017

NOVATOS NA POLÍTICA SENDO VETADOS PELA REFORMA

'Reforma política' tenta inviabilizar entrada de novatos na política

As propostas de reforma política em discussão no Congresso incluem um ponto que pode inviabilizar a candidatura, em 2018, de pessoas que ainda não pertencem a um partido. Segundo parlamentares ouvidos pelo Estado, uma dos objetivos é barrar a entrada de “aventureiros”, como procuradores e juízes, às vésperas da eleição. 

Se a alteração for aprovada, para ser candidato será necessária estar filiado a um partido um ano antes da eleição. Ou seja, quem quisesse concorrer no ano que vem teria menos de duas semanas para entrar em uma sigla. Hoje, a lei exige que um candidato esteja filiado a um partido até seis meses antes do pleito. A data-limite para quem quer concorrer em 2018 é 7 de abril.

A mudança está presente em dois projetos: um tramita na Câmara e outro, no Senado. Ambos prontos para serem votados. De acordo a deputada Renata Abreu (Podemos-SP), crítica da proposta, trata-se de uma maneira de impedir a candidatura de juízes e procuradores. “Essa exigência de estar filiado um ano antes da eleição é só para quem não é filiado. Quem pertence a um partido poderia trocar depois”, disse.

Questionado pelo Estado, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator do projeto da reforma política na Câmara, confirmou que a medida mira “também” em membros do Ministério Público e do Judiciário, mas defendeu a proposta como forma de uniformizar o tratamento dado a cada cargo. “Queremos cortar privilégios. Não queremos permitir que o militar se filie no dia da convenção, que o procurador ou o juiz se filie três meses antes. Isonomia”, disse.

Segundo Cândido, a exigência de que candidatos estejam filiados um ano antes da eleição foi demanda do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). O senador, no entanto, negou ter conversado com Cândido sobre esse tema. “Essa conversa nunca existiu”, disse o peemedebista. 

Nos bastidores, parlamentares falam abertamente em barrar candidaturas de procuradores. Um dos principais articuladores da proposta, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, tem defendido “igualdade” entre todos os concorrentes. A reportagem não conseguiu contato com o senador para saber sobre a intenção de barrar candidaturas de juízes e procuradores. 

O prazo para filiação já foi de um ano e passou a seis meses – como é hoje – em 2015, a partir de reforma saída da Câmara. No Senado, esse ponto foi mantido por Jucá, que era o relator.

Transição. Se aprovada, a regra inviabilizaria a entrada de novos nomes na política, segundo Marcelo Issa, um dos fundadores do movimento Transparência Partidária. “Alterar para um ano não é problema, desde que a mudança não seja feita faltando um ano para a eleição.” Issa defende uma regra de transição.

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