Em termos de segurança pública, o Brasil é um navio à deriva
O Brasil perde algo em torno de 6% do PIB a cada ano em face do crime e da violência letal. Considerando as despesas que o Estado arca para lidar com o problema, como gastos com segurança pública, com o sistema prisional, com o sistema público de saúde, que recebe as vítimas da violência... Uma outra parte do custo tem a ver com o que impacta a sociedade.
O ponto maior é a perda de vidas. A gente sabe que uma vida humana que se perde tem um valor incomensurável, principalmente para a família. Os homicídios significam 2,3% do PIB.
Há fatores que podem propiciar a evolução do crime. Mas não é pelo simples fato de esses fatores terem se revelado numa região que ela vai ter crimes. Você pode ter muita droga e não ter muitos crimes violentos ali, porque se pode investir em políticas públicas preventivas. A nossa grande miséria é essa: em termos de segurança pública, o Brasil é um navio à deriva. As políticas de segurança pública que são implementadas são sempre na base do achismo, dos factóides, das reuniões de última hora para dar respostas à sociedade porque aconteceu um crime ali ou acolá, mas sem nenhuma consistência, diagnóstico, planejamento, avaliação.
No caso do Rio, há que se ter boas políticas públicas e comprometimento dos políticos centrais. Governador, prefeito, seja lá quem for. Só que, no Brasil, esta é uma agenda maldita. Os governadores se afastam desta agenda e colocam o secretário de Segurança na linha de frente. Aí, quando dá errado, eles trocam o secretário, como se fosse um clube de futebol que troca o técnico ao cair para a segunda divisão. Mas, para esta agenda funcionar, é preciso ações intersetoriais baseadas em dois pilares: um é a prevenção focalizada da violência.
Metade dos homicídios do Rio acontece em 10% dos bairros (como Santa Cruz, Penha, que envolve o Chapadão, Pavuna e a área da Leopoldina). Então, tem que olhar quem são essas crianças e jovens que estão ali. Elas são peças de reposição fácil.
Em geral, nasceram em famílias com violência doméstica, violência comunitária, violência institucional (muitas vezes cometida pela própria polícia), em geral não tiveram acesso à educação e ao mercado de trabalho, e cresceram sem qualquer supervisão e orientação. Vão servir de mão de obra para o tráfico e para o crime desorganizado.
Precisamos ter uma política preventiva focada neles. Vai durar alguns anos. Mas aí entram as reformas de curto prazo, como reformar as polícias.
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