Ontem, entre os milhares de manifestantes da minha cidade, senti o alento de não estar sozinho e de poder prantear o luto por Marielle junto aos meus, os meus iguais, os seres humanos que se mantém humanos, apesar de toda a desumanidade.
Vereadora de 38 anos, executada com quatro tiros na cabeça, é a primeira vítima política da barbárie do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, quinta-feira, 15 de março. Sob um sol de quase 40 graus, uma multidão se reuniu nas escadarias do Palácio Pedro Ernesto, onde fica a Câmara Municipal, para homenagear Marielle, era novíssima na política: eleita pelo PSOL em 2016, com 46.500 votos (a quinta maior votação), entrava no segundo ano de mandato.
Voz vibrante a favor das mulheres, dos negros, dos homossexuais e dos favelados — categorias em que se encaixava pessoalmente — tinha intensa atuação dentro e fora da Câmara.
A morte brutal a agigantou ao adicionar um componente político ao inaceitável caldeirão de violência que engolfa o Rio: os disparos abateram uma pessoa eleita pelos cariocas para representá-los.
Exato um mês depois de instalada, a intervenção federal nas polícias fluminenses, que imaginava ter tempo para agir, vê-se encostada na parede. “A ação federal foi desafiada pelo assassinato de Marielle”, diz a cientista social Silvia Ramos, especialista em segurança pública.
Como no Brasil politicamente polarizado tudo é visto pela lente da deformação ideológica, já apareceram críticas à enorme repercussão do crime, creditando-a ao perfil de Marielle: mulher, negra, lésbica, esquerdista.
Nada mais equivocado. Seu assassinato é um símbolo dramático porque se trata de uma execução contra uma voz pública, que detinha um mandato popular. Fosse a vítima um homem, branco, heterossexual e direitista, a gravidade não seria um milímetro menor. Por tudo isso, o presidente Michel Temer tocou no ponto nevrálgico: é um atentado à democracia.
Por que, afinal, Marielle foi executada a tiros? Quem tinha interesse em sua morte?
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