segunda-feira, 5 de março de 2018

O RIO DE JANEIRO E AS INUNDAÇÕES


É preciso dar manutenção ao sistema de drenagem, mas também reorganizar os escoamentos.

As inundações urbanas são quase sempre eventos dramáticos: famílias perdem bens, às vezes as próprias casas; o trânsito fica um caos; e doenças proliferam. Como um castelo de cartas, afetam uma vasta região da cidade. Nos últimos eventos que ocorreram no Rio de Janeiro, uma situação foi marcante: diversas áreas permaneceram alagadas por longo tempo, após o término das chuvas. Isso indica falha de manutenção da rede, e este fator foi devidamente destacado pela imprensa.

Porém, é preciso dizer que, mesmo com a manutenção em dia, com toda a rede funcional, provavelmente a cidade ainda sofreria alagamentos. Não há apenas um vilão neste caso. Embora importante, a manutenção não é suficiente para resolver todos os problemas que precisam ser enfrentados para prevenir e reduzir os danos causados pelas cheias na cidade.

Velhas conhecidas do Rio de Janeiro, as inundações têm uma forte relação com o processo de urbanização e de modificação das áreas naturais onde a cidade cresceu. Quando este processo ocorre sem planejamento e controle adequados, muitas vezes as áreas de várzeas, que não deveriam ser ocupadas, acabam cedendo lugar para a cidade. Além disso, o excesso de concreto e asfalto das áreas urbanas substitui a vegetação natural, produzindo mais escoamentos e agravando a própria inundação.

A cidade precisa ser compreendida como um sistema vivo. O Rio de Janeiro tem um relevo desfavorável, com montanhas descendo sobre uma planície costeira que sofre efeitos de maré. Sua urbanização não foi controlada, e há várias áreas com habitações precárias e carência de infraestrutura. É preciso dar manutenção ao sistema de drenagem existente, mas também é necessário fazer estudos, projetos e obras para reorganizar os escoamentos que passam pela cidade, usando a rede de drenagem. São necessárias correções de calha, uso de reservatórios, entre outras soluções para resolver os problemas.

Também é preciso pensar a cidade de forma sistêmica, limitando a impermeabilização de novos empreendimentos e buscando soluções mais sustentáveis como o uso de pavimentos permeáveis, telhados verdes e pequenos reservatórios em lotes, praças e parques. São medidas distribuídas no espaço urbano, de médio e longo prazo, que devem contar com a participação da sociedade e que precisam começar a ser implementadas desde já.

Por fim, e não menos importante, é preciso estar atento às áreas de expansão urbana, como as Vargens, na Zona Oeste da cidade. Para esses locais, é necessário planejar de forma integrada e antecipada, reconhecendo os limites do crescimento urbano, garantindo espaço para cheias nos fundos de vale e evitando a repetição dos erros do passado e os consequentes investimentos (não pequenos) necessários para a sua correção.

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